Vários países registram recordes de casos e efeito da vacinação será a longo prazo
As mutações do coronavírus surgido na China em 2019 têm causado alerta ao redor do mundo. Tais mutações são próprias e naturais de quaisquer vírus, porém, o alcance dos efeitos das distintas variações do Sars-CoV-2, como é designada cientificamente a cepa básica da Covid-19, ainda deixam várias questões sem resposta e preocupam cientistas e autoridades ao redor do mundo.
As variantes britânica e sul-africana do coronavírus, especialmente contagiosas, já estão presentes em cerca de 50 países. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que uma terceira mutação, originária da Amazônia brasileira e que o Japão anunciou ter descoberto no domingo, está sendo analisada e pode ter um impacto na resposta imunológica, que a descreveu como "variante preocupante". "Quanto mais o vírus Sars-CoV-2 se espalha, mais chances tem de mudar", destacou a OMS, que acredita que "surgirão mais variantes" caracterizadas por "uma maior transmissibilidade".
Sylvain Aldighieri, gerente de incidentes para Covid-19 na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), declarou que, até as 12h (horário de Brasília de quarta-feira, 13), Brasil, Canadá, Chile, Equador, Jamaica, México, Peru e Estados Unidos relataram a variante britânica, enquanto Brasil e Canadá encontraram a da África do Sul em suas amostras de laboratório. "Queremos encorajar os países a aumentarem seu nível de alerta", disse Aldighieri, pedindo a "implementação estrita" das medidas de saúde pública recomendadas.
Pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, descobriram duas novas variantes do coronavírus no país entre dezembro e janeiro. Segundo os cientistas, as mutações são semelhantes àquela identificada no Reino Unido e têm potencial de tornar o Sars-CoV-2 mais contagioso, embora as evidências indiquem que não tenha efeito sobre a eficácia das vacinas. Os estudos ainda estão sob revisão de pares e não foram publicados em revista médica.
O cientista-chefe do Centro Médico Wexner de Ohio, Peter Mohler, ressalta que é importante não "exagerar" na reação às descobertas. "Ainda precisamos entender o impacto dessas mutações no vírus, a prevalência delas sobre a população e se elas têm impacto mais significativas na saúde humana", explica.
Numa coletiva de imprensa, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne, destacou que até agora não há evidências de que essas variantes afetem os pacientes de maneira diferente, mas sugerem que o vírus pode se espalhar mais facilmente, colocando em risco a resposta dos sistemas de saúde. "Manter o distanciamento social, usar máscaras faciais em público e lavar as mãos com frequência ainda são nossa melhor opção para ajudar a controlar o vírus neste momento, em todas as suas formas", disse.
"Só na última semana, 2,5 milhões de pessoas foram infectadas com covid-19 em nossa região, o maior número de casos semanais desde que o vírus chegou à nossa costa", disse ele. "Praticamente todos os países das Américas estão experimentando uma aceleração na disseminação do vírus", acrescentou.
Diante dos desafios colocados pelo novo coronavírus, e enquanto a região inicia suas campanhas de vacinação, a Opas pediu aos governos que atuem de maneira transparente e com base científica para controlar a pandemia, alertando que colocar a política acima do interesse público "pode custar vidas". "Politizar vacinas e outras medidas de controle não é apenas inútil, mas pode alimentar o vírus e custar vidas", disse Etienne. "Esta pandemia nos ensinou repetidamente que a liderança determina a eficácia da resposta de um país."
A pandemia de Covid-19 causou pelo menos 1.963.557 mortes no mundo desde que o escritório da OMS na China informou sobre a detecção da doença no final de 2019, segundo balanço da agência AFP de quarta-feira. Mais de 91,5 milhões de pessoas se contagiaram, e o contra-ataque organizado pelos governos se intensifica, com confinamentos, toques de recolher e outras restrições impopulares, para conter a pandemia.
Impacto ascendente
Os Estados Unidos são o país em que a Covid-19 causa mais mortos (quase 381.000) e mais infecções (cerca de 23 milhões). Com uma média de três óbitos por minuto, a nação registrou na terça-feira um novo recorde de mortes diárias (4.470). "É, sem dúvida, o período mais sombrio de toda minha carreira", admite Kari McGuire, encarregada da unidade de cuidados paliativos do hospital Santa Maria, de Apple Valley, na Califórnia, totalmente saturado.
Com a propagação da epidemia, governos de todo o mundo tentam adquirir e administrar vacinas o mais rápido possível, mesmo que, segundo a OMS, esses esforços não garantirão a imunidade coletiva em 2021.
Na Europa, a região mais castigada do mundo com quase 634 mil mortes e mais de 29,4 milhões de casos, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) anunciou que recebeu um pedido de autorização para a vacina da aliança britânica AstraZeneca/Oxford. Deve tomar uma decisão a respeito antes de 29 de janeiro.
O Reino Unido registrou novo recorde de mortes diárias (1.564) e o governo quer começar programas de vacinação de 24 horas "o quanto antes". O objetivo é imunizar cerca de 15 milhões de pessoas antes de meados de fevereiro, no país mais enlutado do continente, com mais de 83 mil mortos.
A Itália também pretende prolongar o estado de emergência até 30 de abril. E Portugal determinou novo lockdown a partir desta sexta-feira (15). E na Noruega, o governo quer impor testes obrigatórios nas fronteiras, apesar de o país já contar com regras sanitárias rigorosas para os visitantes (necessidade de um teste negativo inferior a 72 horas, medidas de quarentena).
Enquanto isso, a Alemanha anunciou que conta com 10mil soldados preparados para serem mobilizados e ajudar as equipes de saúde nos lares de idosos, onde poderão efetuar testes rápidos de Covid-19.
Na China, que comemorava a erradicação da pandemia e onde a última morte por Covid-19 oficialmente registrada ocorreu em maio, vários focos surgiram nos últimos dias, o que levou as autoridades a impor estritas restrições de deslocamentos para dezenas de milhões de pessoas. É o caso da província de Heilongjiang (nordeste), na fronteira com a Rússia, e de Hebei, perto de Pequim, onde seus 76 milhões de habitantes estão proibidos de sair da região.
O Japão também ampliou seu estado de emergência, já vigente em Tóquio e periferia, para sete outras regiões. E a Indonésia, o segundo país da Ásia mais castigado pela Covid-19, atrás da Índia, com cerca de 850mil casos registrados e de 25 mil mortes, iniciou a campanha de vacinação, com o presidente Joko Widodo dando o exemplo.
AFP/Agência Estado/Dom Total
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