Fernando Fabbrini*

O isolamento social traz mudanças estranhas no nosso comportamento. Eu, por exemplo, transformei-me num colecionador de asneiras da internet, para passar o tempo. Os sites de notícias fúteis andam riquíssimos em atrocidades de nosso cotidiano. E milhares curtem, adora, elogiam, vibram sobre seus teclados.

Meus favoritos são prováveis produtos de estagiários distraídos e trainees em sites e jornais. Esta semana, uma manchete genial: "Marinha lança submarino ao mar". Ao mar? Eu acho que por trás disso há um claro preconceito contra piscinas, banheiras e cachoeiras. Num dos maiores sites do país, outra manchete: "Vulcão entra em "ereção" e assusta Guatemala". Sim, a palavra foi essa mesmo. Só me restou ponderar que um vulcão é sempre muito ardente nesses momentos. Talvez tenha encontrado uma "vulcana" e se apaixonado.

"Fulana, refugiada da pandemia no Caribe, mostra filho brincando com carrinho". Mais de 100 curtidas. A atriz fotografou o filhote com um carrinho na areia e milhares o contemplaram extasiados, postando comentários: "Que fofo!", "Lindinho", "Ai, gente!" Não resta dúvida que evento de tal significado para a humanidade – uma criança distraindo-se na praia – mereça uma cobertura jornalística imediata.

Outra estrela da TV, nostálgica, postou fotos de uma viagem anterior às ilhas gregas: "O importante na vida é ser feliz! ...", assim mesmo, com reticências e ponto de exclamação. Dezenas de mãozinhas azuis concordaram, polegares eretos, boquiabertos defronte à profundidade do mergulho filosófico. Não muito longe dali, Tales de Mileto, Epicuro, Antístenes, Sócrates, Platão e Aristóteles – aqueles caras que deram meia-dúzia de pitacos sobre os temas "vida" e "felicidade" – reviraram-se em suas tumbas de puro mármore da ilha de Paros.

Estética corporal chique, ostentação financeira, busca desesperada da juventude estão bombando de máscaras ou sem elas. "Grávida, fulana está linda e mostra a barriguinha". De fato, a expansão do abdômen feminino durante a gestação é algo absolutamente inédito, inesperado e encantador. "No isolamento, fulano se hospeda com fulana em resort com diária de R$8 mil". Dispensa comentários.

"Malhado e de cabelos grisalhos, fulano exibe namorada novinha" 75 curtidas. "Cada vez mais magra, fulana mostra barriga de tanquinho e fãs elogiam". 63 fizeram "fiu-fiu". Esta não entendi bem: na foto, a sorridente beldade, de costas, exibe fartas protuberâncias – e não o referido ventre deprimido. Disse outra boazuda: "Não tenho um namorado, tenho vários". 81. Ops! Calma: 81 é o número de curtidas sob a frase, e não o de namorados da moça fogosa.

Esta semana, impávida frente aos riscos do Covid, uma atriz carioca arrasou. Ela mudou-se para um apê novo (4 quartos, dois livings, terraço, espaço gourmet e vista pro mar) e deparou-se com um perigo inesperado. Não era uma nuvem de vírus, mas um séquito de baratas transitando pelas áreas comuns do condomínio. A procissão asquerosa de insetos virou notícia. Saiu assim: "Fulana conta que tem enfrentado baratas em casa e dá dicas. 'Estou um pouco desesperada' – afirmou".

Até o presente momento, a barata já tinha faturado mais de 80 curtidas.