Estamos assistindo atuações que nos geram tristeza, desânimo, constrangimento e raiva
Eleonora Santa Rosa*
Há algo mais vexatório, afora os pronunciamentos de JB, do que o patético EP, que nos foi empurrado goela abaixo num dos principais e mais sensíveis ministérios, e seu inacreditável pronunciamento desta semana em Manaus, típico de uma personalidade com déficit de inteligência, percepção e sensibilidade? Senão vejamos, disse o que não sabe até hoje o seu papel: "a vacinação começa no dia D e na hora H em todo o Brasil". Se por deboche ou por completa falta de noção, essa estultice foi dita em meio ao enterro de pilhas de corpos infectados numa segunda onda da Covid, após o período de festas de fim de ano, na capital do Amazonas.
Constrangedor, completamente constrangedor, chega mesmo a ser vergonhoso tamanho despreparo. Disparate não único, por certo, mas que expressa a dimensão da encrenca gerencial e operacional em que estamos, submetidos às sandices do rechonchudo tatibitate.
Em outra seara, assistimos, pasmos, a destruição do legado de anos das instituições públicas federais, sobretudo no campo cultural, com a exoneração de técnicos comprometidos e competentes, substituídos por criaturas inimagináveis, que chefiam a derrocada do Sistema Nacional de Cultura do Brasil, assim como o desmantelamento do processo de aprovação dos projetos apresentados para obtenção de incentivo fiscal no âmbito da Lei Rouanet. O estrago será visível em 2021, com a paralisação de iniciativas que contam com o suporte do patrocínio incentivado, além da inviabilização de uma série de atividades e programas artísticos de fundamental importância em todo o país.
Por outro lado, tristeza imensa ao caminhar na semana passada no centro da antiga capital da República e constatar o estado de conservação de monumentos e edificações de repartições e museus federais, em estado de abandono ou de decadência acentuada. Chocada com a lateral o Museu de Belas Artes, com a concertina instalada em toda a extensão lateral do prédio, dando a impressão de tratar-se de um presídio e não de um equipamento cultural público. De dar dó!
Desânimo profundo também ao tomar conhecimento da decisão de JB sobre a TV Brasil, que comprará novelas do bispo-chefe da Igreja Universal, para exibição em rede nacional.
E o festival nacional de falta de noção não para: o governo do Estado do Rio acaba de definir que o Carnaval acontecerá em julho, imaginando poder conter a onda e o números de contaminação da Covid por decreto. Veremos, confrangidos, o resultado desse despautério.
Enfim, interminável rol de oportunismos, irresponsabilidades, incapacidades, incúrias, que me faz lembrar a canção do mestre Gil:
Nos barracos da cidade
Ninguém mais tem ilusão
No poder da autoridade
De tomar a decisão
E o poder da autoridade
Se pode, não faz questão
Se faz questão
Não consegue
Enfrentar o tubarãoÔôô ôô
Gente estúpida
Ôôô ôô
Gente hipócritaO governador promete
Mas o sistema diz "não"
Os lucros são muito grandes
Mas ninguém quer abrir mão
Mesmo uma pequena parte
Já seria a solução
Mas a usura dessa gente
Já virou um aleijãoÔôô ôô
Gente estúpida
Ôôô ôô
Gente hipócrita
Ôôô ôô
Gente estúpida
Ôôô ôô
Gente hipócrita
Ôôô ôô
Gente estúpida
Ôôô ôô
Gente hipócrita
*Ex-secretária de Estado de Cultura de Minas Gerais, ocupou diversas funções públicas de relevo e desenvolveu projetos de educação patrimonial e de patrimônio cultural de repercussão nacional. Ex-diretora executiva do Museu de Arte do Rio - MAR (de novembro de 2017 a novembro de 2019), é considerada uma das mais experientes e respeitadas profissionais no campo da viabilização, implantação e soerguimento de equipamentos culturais no país. Estrategista e gestora cultural, tem larga experiência editorial; foi responsável pela publicação de mais de meia centena de obras voltadas à história e à cultura de Minas Gerais, tendo sido coordenadora editorial das consagradas Coleções Mineiriana e Centenário da Fundação João Pinheiro. Diretora do Santa Rosa Bureau Cultural, é autora do livro Interstício
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