Eleonora Santa Rosa*

Suavidade em pausa para a virada, em saudação ao Natal, em desejo de celebração de afeto, harmonia, bondade e fraternidade.

Ano de dobrado cortado, de muitas perdas e tristezas acumuladas pelos que se foram, luto estendido de norte a sul.

Necessidade de recriação, de nascimento, de renovação, de nova lufada de vento e amor em oposição às rajadas verbais de violência e vitupérios.

Hoje saudaremos o amor, o amor maior, de crença no milagre do homem, do humano transcendente em nós, do recomeço possível sob outra percepção.

Desejo a todos os queridos leitores, aos amigos e familiares um encontro natalino compartilhado de fé na vida, da lição da sobrevivência, da persistência e superação de um dos momentos mais dolorosos da nossa história contemporânea.

Que os frutos da misericórdia e do entendimento, da conciliação e da convivência, da pacificação e da afetividade possam alimentar a todos nesse Natal e que a compreensão e a generosidade possam estar presentes permanentemente.

Que a poesia seja servida em todas as mesas como a mais fina iguaria, que seja o repasto diário de todos, ceia para coração e o espírito.

Cartão de Natal

João Cabral de Melo Neto

Pois que reinaugurando essa criança

pensam os homens

reinaugurar a sua vida

e começar novo caderno,

fresco como o pão do dia;

pois que nestes dias a aventura

parece em ponto de voo, e parece

que vão enfim poder

explodir suas sementes:

Que desta vez não perca este caderno

sua atração núbil para o dente;

que o entusiasmo conserve vivas

suas molas,

e possa enfim o ferro

comer a ferrugem,

o sim comer o não.