Em meio à guerra, Francisco visita o país europeu que se tornou parceiro da Santa Sé em sua audaciosa missão de paz
Mirticeli Medeiros, enviada especial a Malta*
Cancelada após o início da pandemia, a viagem de Papa Francisco a Malta, a 36ª visita apostólica de seu pontificado, que acontece neste fim de semana, entra para a lista das mais significativas, sobretudo se olharmos para o contexto no qual ela acontece.
Além de falar ao público católico maltês, o santo padre poderá lançar um apelo de paz ao mundo do território onde, segundo a tradição, o apóstolo Paulo teria naufragado antes de iniciar seu trabalho de evangelização pelos lugares que estavam sob o domínio do Império Romano.
Reza a lenda que, após esse imprevisto, que pode ter acontecido nos idos 60 d.C, o apóstolo teria se refugiado numa gruta sobre a qual, na Idade Média, foi construído um santuário para fazer memória desse episódio.. No domingo (3), o Papa Francisco conduzirá um momento de oração nesse local que é símbolo, por excelência, do catolicismo no país.
Dos mais de 400 mil habitantes da pequena ilha, quase 94% desse total professa o catolicismo, o que faz de Malta um dos países mais católicos da Europa.
Sua posição geográfica - ao sul da Itália, entre as costas da Sicília e da Tunísia - transformou a ilha em porta de entrada de muitos migrantes vindos da África. Segundo dados do departamento de migrantes e refugiados do Vaticano, o país abriga, atualmente, cerca de 100 mil refugiados.
Embora a acolhida seja generosa, vários episódios de xenofobia têm sido registrados nos últimos meses. Francisco aproveitará a ocasião para pedir à Europa, mais uma vez, que uma política de imigração eficaz, focada ?na solidariedade compartilhada?, capaz de envolver o maior número possível de nações do velho continente, seja colocada em prática.
Em Malta, mas de olho no Leste Europeu
Com o mundo em estado de alerta após a invasão da Ucrânia, ocorrida em fevereiro deste ano, o pontífice argentino visita um país que, dentro do tabuleiro geopolítico, tomou uma decisão importante, sobretudo se pensarmos no papel de mediação que a Santa Sé se propõe a assumir em meio a conflitos de grande proporção.
Malta é um dos poucos países - de 51, no total - que assinaram e ratificaram o pacto da ONU sobre a proibição e abolição de armas nucleares, sendo um dos poucos países da Europa a fazê-lo, juntamente com Irlanda e República de San Marino.
Dessa forma, esse Estado europeu se une a muitos países da África e América Latina, duas áreas do planeta para as quais a diplomacia da Santa Sé volta seus olhares ao pensar numa rede eficaz de mediação em prol da paz.
A viagem do Papa acontece numa ?semana atípica? no Vaticano, que nos leva a ligar os pontos a respeito de uma ação ainda mais concreta da Santa Sé para acabar com a guerra
na Ucrânia. Nesta sexta-feira (1), Francisco recebeu, no Vaticano, a visita do presidente da Polônia, Andrzej Duda, que lhe fez um convite especial para visitar o país e ir ao encontro dos refugiados ucranianos que se encontram no território.
Além disso, rumores de que a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, que é maltesa, recepcione o Papa em Malta, reforça a ideia de que, mais uma vez, a Santa Sé não pretende ficar de braços cruzados diante dessa, que ela considera, uma ameaça global.
A viagem do Papa acontece de 2 a 3 de abril. E ele é o terceiro pontífice a visitar o país após João Paulo II (1990 e 2001) e Bento XVI, em 2013.
Dom Total
*Mirticeli Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às sextas-feiras.
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